Poemas

Curadoria de Uibitu Smetak

Selecionar 20 poemas de Walter Smetak – de quatro de seus volumes de escritos – foi como entrar num jardim secreto. Um jardim escondido na minha própria psique. Ele não estava esquecido, mas sua porta estava fechada, coberta de hera… Há muito que não ia lá. Os sons de palavras que outrora tanto ouvi, ora nos lábios do meu pai, ora nos da minha mãe – uma grande colaboradora na transmissão dos mistérios – foram como o ranger daquela porta ao abrir-se, trazendo minha infância e meu proto ser de volta, doce e oniricamente.

Revi o cálice de prata que ficava sobre a mesa de trabalho do Alquimista dos Sons, a luz violeta-lilás iluminando a escada que dava acesso ao terraço e a velha máquina de escrever que tanto me embalou em incontáveis tardes perdidas de inocência e prazer pueril. Os desenhos me recordaram as canetinhas hidrocores que eu cobiçava como joias preciosas e das quais me apossava em segredo, quando seu dono não estava por ali. Um mundo de símbolos se desvelava a cada página. Embebido dessa aura, segui minha intuição e colhi as flores desse fantástico horto: os poemas que me sussurravam algo ao ouvido, que me comoviam e me reaproximavam do meu velho pai, os de sonoridade que faziam vibrar meu espírito, tal corda simpática que acorda outra corda, aquela que também encontramos in hominum cordibus, nos corações dos homens… Sinto que esse jardim não pode ser apenas meu. O perfume dessas flores deve chegar a muitas almas que buscam chaves para enigmas. Talvez encontrem em Smetak um espiralado labirinto cheio deles, de enigmas, sem chaves. A vida é ricercare e fuga. Assim se cumpre o infinito Samsara do vir a ser, do ser no não ser, do ter no não ter – seriam palavras do Mestre dos Microtons.

Como filho, não posso ocultar que foi um processo emotivo e extremamente pessoal que revelou muito do que existe em mim por causa dele – o pai. A inefável abastança com que me presenteou e ainda o faz. Essa seleção foi uma grande prova disso.

Agradeço pela oportunidade desse reencontro.